O evento, idealizado pelo ICMBio, contou com palestras e capacitação de manejo
Foto: Pedro Pereira
Durante os dias 13, 14 e 15 de agosto, Fernando de Noronha foi palco da Semana do Peixe-Leão, uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que mobilizou mais de 100 pessoas em torno de um objetivo comum: combater a ameaça do peixe-leão, uma espécie exótica invasora que coloca em risco a biodiversidade local.
O evento, que teve início na quarta-feira (15), foi marcado por uma série de atividades, incluindo palestras, capacitações e a apresentação de estudos científicos. A programação começou com a apresentação do Plano de Ação para Controle e Monitoramento da Bioinvasão do Peixe-Leão em Pernambuco, conduzida pela Gerente de Áreas Costeiras e Oceânicas da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Maria Danise. Esta apresentação destacou a urgência de estratégias coordenadas para lidar com a presença crescente deste predador em Fernando de Noronha.
Um dos destaques da semana foi a palestra da professora Liana Mendes, do Laboratório do Oceano (LOC) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que trouxe uma análise comparativa baseada em estudos realizados na Costa Rica. Mendes apontou que, em áreas protegidas na Costa Rica, onde o manejo é restrito, a presença do peixe-leão tende a ser maior, evidenciando a necessidade de um monitoramento contínuo e de uma abordagem participativa que envolva tanto órgãos públicos quanto a sociedade civil.
A importância do envolvimento comunitário foi reforçada pelo Coordenador da Área Temática de Pesquisa do ICMBio de Fernando de Noronha, Ricardo Araújo. Segundo ele, "trabalhar junto com a comunidade e com operadoras de mergulho é o caminho para diminuir os impactos gerados pelo Peixe-Leão". Especialmente, quando se trata de unidades de conservação integral, onde a falta de manejo adequado pode resultar em graves danos ao ecossistema.
Foto: Pedro Pereira
A ameaça do Peixe-leão
Nativo da região indo-pacífica, o peixe-leão (Pterois volitans) foi avistado pela primeira vez no Brasil em 2014. Mas foi em 2020 que ele foi registrado em Fernando de Noronha. Desde então, cerca de 700 peixes-leão foram capturados no arquipélago. Este predador voraz, que pode consumir até 20 peixes em apenas 30 minutos, não possui predadores naturais na região e é capaz de se reproduzir rapidamente, colocando até 30 mil ovos de uma só vez.
A captura do peixe-leão em Noronha é realizada durante operações de mergulho, utilizando um equipamento desenvolvido por pesquisadores, já que a pesca com arpão é proibida no arquipélago. Durante a Semana do Peixe-Leão, vinte mergulhadores avançados receberam treinamento teórico e prático para realizar estas capturas, resultando na coleta de sete peixes-leão.
O que se sabe do Peixe-leão de Noronha?
Os peixes-leão capturados em Fernando de Noronha são enviados para análises no Laboratório de Ictiologia e Conservação da Universidade Federal de Alagoas, em parceria com o Projeto de Conservação Recifal. As pesquisas são multidisciplinares e envolvem diversos professores e universitários.
Os estudos conduzidos revelaram que a dieta do peixe-leão inclui espécies endêmicas de Fernando de Noronha, como o peixe-dozela de rocas.
"Infelizmente, encontramos no conteúdo estomacal espécies endêmicas da ilha e outras que são alvos da pesca artesanal, como a piraúna", afirmou Cláudio Sampaio, biólogo e professor da Universidade Federal de Alagoas.
As pesquisas também destacam que o peixe-leão tem se alimentado de herbívoros, o que pode levar a um desequilíbrio ainda maior na comunidade de peixes de Noronha.
Além disso, análises microbiológicas detectaram a presença da bactéria Escherichia coli acima do limite permitido pela Anvisa, o que inviabiliza o consumo do peixe cru. Por outro lado, as concentrações de mercúrio encontradas nos peixes examinados estão abaixo dos limites estabelecidos por lei.
Esses resultados podem abrir caminho para o consumo do peixe-leão no Brasil, como já acontece em outros países, como a Colômbia. Integrar o peixe-leão à cadeia produtiva pode ser uma ferramenta eficaz para controlar sua população e, ao mesmo tempo, incentivar a economia local.
Foto: ICMBio-Noronha
Cuidados e capacitação
O manuseio do peixe-leão requer cuidados especiais devido aos seus espinhos tóxicos, que podem causar acidentes. Durante a semana, profissionais de saúde foram capacitados no Hospital São Lucas para atender a casos de ferimentos, com orientações para o uso de água morna como forma de neutralizar a dor causada pelo veneno.
A Semana do Peixe-Leão em Fernando de Noronha foi mais do que um evento educativo, foi um passo crucial na preservação do ecossistema único do arquipélago, reforçando a importância da cooperação entre pesquisadores e comunidade.
O evento, realizado pelo ICMBio, contou com apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Projeto Conservação Recifal, Administração de Fernando de Noronha, Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Associação Noronhense das Empresas de Mergulho Autônomo (Anema), Sea Paradise e restaurante Mirante do Boldró.
Fotos: ICMBio-Noronha
Por Giselle Vasconcelos - comunicação ICMBio Noronha
e Claudia Bueno - voluntária comunicação ICMBio Noronha
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